sábado, 31 de julho de 2010

Fragmentar para Despertar

"Quando crescer quero ser máquina!" - Victor Hamlet Frankenstein

O processo de elaboração de "A Máquina - Uma Leitura Frankensteinian sobre Hamlet" é extremamente laboratorial. Digo é porque não encontrou seu fim, pelo contrário, estamos no incio de uma jornada.
Começamos com o romance de Mary Shelley, passamos por Shakespeare e rapidamente chegamos a Heiner Muller, Bob Wilson, Lehmann e diante de tantos estrangeiros escolhemos fazer o nosso e encaramos muitos desafios: fragmentar o todo da tradição, fazer da tecnologia um personagem vivo, juntar pedaços em novas paisagens, provocar os olhares e um dos que eu mais gosto: libertar o público do artista, como diz o próprio Bob Wilson.

Ao apresentarmos uma estrutura não linear em que as coisas não são dadas gratuitamente ao público, pelo contrário, ele é convidado e instigado a mergulhar, se afastar, reiniciar, percorrer um caminho único sem saber qual será o ponto de chegada, porque também existem muitos pontos de chegada, propomos um exercício de liberdade assustador (talvez por isto alguns dizem que não entendem) em que cada um é dono do espetáculo que assiste, a fragmentação permite conexões infinitas de arranjos e entendimentos.

Julgo que esta ação é uma das mais politizantes que podemos executar. funciona exatamente na contra mão do bombardeamento midiático que sofremos a todo instante em que as informações já digeridas so servem para acomodar.

Talvez continue sendo esta a resposta para a pergunta "arte para quê?"
Para suverter a ordem. Para tornar alerta. Para reinsinar a pensar.
Para "despertarmos dentre os mortos."

Priscila Nicoliche

Sobre a pesquisa de linguagens do Grupo Quântica

O Quântica nasceu como grupo de pesquisa de linguagens. Começamos com a dança teatro, de origem alemã, onde o gesto tem uma carga simbólica das mais contundentes. Acho natural que hoje estejamos pesquisando o teatro pós dramático. fazemos um teatro investigativo que deseja descobrir algo sobre o próprio teatro, sobre a relação do público com o que produzimos, sobre o comportamento do ator, sem medo de mudar a rota ou criar novas trajetórias.

Descrevo aqui alguns dos nossos princípios:

Primeiro limpamos o espaço tanto os internos como os externos. é assim que precisa ser. Simbolicamente é a criação do nosso vazio. Tudo o que não pertence a cena deve ficar fora. os espaços precisam estar vazios para a criação.

O ator precisa ter prazer na investigação. Deve olhar-se como objeto de estudo com possibilidades infinitas. um ator que não investiga, que se economiza é um ator morto. O ator precisa ter autonomia para criar em um ambiente onde as certezas não estão garantidas e isto seja uma elemento que o instigue a avançar e onde não haja concorrências com a autoridade do diretor. na verdade esta autoridade nem deve existir. Todos estão juntos.

Temos como carcterística uma estética fortemente marcada, coreografada e quando se fala em movimentos coreografados a mimese é apenas um estágio. A apropriação é fundamental. o movimento proposto deve pertencer ao intérprete e para tanto, a generosidade de absorver as formas do outro, tornando-as suas é essencial.

Quando penso as cenas, penso em imagens que se configuram tendo múltiplos significados, incluindo aqueles que serão dados pelo público. Mesmo a palavra só tem sentido quando é imagética. Os diálogos lineares tem me interessado pouco. Contemporaneamente somos ilhas. é do pressuposto do monólogo que eu parto.

Priscila Nicoliche